Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis
Resumo da obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis
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Introdução: Um defunto-autor
A narrativa de Memórias Póstumas de Brás Cubas é inovadora desde o início, ao apresentar um narrador que escreve sua história após a morte. Brás Cubas se autodenomina um "defunto-autor", invertendo a lógica comum da literatura tradicional ao afirmar que, por estar morto, não tem compromissos com a verdade ou a moral. Ele oferece ao leitor uma obra carregada de humor ácido, ironia e reflexão filosófica, características que tornam o livro um marco do realismo brasileiro.
Infância e juventude de Brás Cubas
Brás Cubas nasceu em uma família rica do Rio de Janeiro no início do século XIX. Seu pai, um homem ambicioso, deposita grandes esperanças no filho, que cresce cercado por privilégios. Desde cedo, Brás demonstra um caráter egoísta e preguiçoso, traços que marcarão toda a sua vida.
Durante a juventude, ele vive um amor frustrado com Marcela, uma cortesã mais velha que o seduz e explora financeiramente. A paixão é intensa, mas efêmera, revelando o lado superficial de seus relacionamentos. Após o rompimento, o pai de Brás decide enviá-lo a Coimbra, em Portugal, para estudar Direito.
Anos em Coimbra e o retorno ao Brasil
Os anos em Coimbra são marcados mais pela boemia do que pelos estudos. Brás retorna ao Brasil sem grandes realizações acadêmicas, mas com a postura de um homem "culto". Ao regressar, seu pai tenta casar o jovem com Virgília, filha de um político influente, como forma de consolidar poder. Virgília, no entanto, se casa com Lobo Neves, um homem com maior potencial político.
Virgília: o amor proibido
O relacionamento com Virgília não termina com o casamento dela. Brás e Virgília vivem um caso extraconjugal cheio de encontros clandestinos. Ela é apresentada como uma mulher prática, que busca conciliar sua ambição com o amor por Brás. Esse romance é descrito com grande ironia, mostrando como os personagens colocam seus interesses acima de valores morais.
Virgília representa um dos momentos mais importantes da vida de Brás, mas o caso acaba por desmoronar quando Lobo Neves é transferido para outra província. Brás não tem a disposição para enfrentar grandes desafios por amor, o que reflete seu caráter apático.
Os fracassos de Brás Cubas
Brás Cubas tenta, ao longo da vida, encontrar um propósito ou realizar algo grandioso, mas todas as suas iniciativas fracassam. Uma das tentativas mais emblemáticas é a criação do "emplasto Brás Cubas", um remédio miraculoso que ele acredita que o tornará famoso e deixará seu nome na história. A ideia é uma metáfora para o vazio de suas ambições: ele deseja a glória não por mérito, mas pela vaidade.
Outra tentativa de destaque ocorre quando Brás tenta ingressar na política. No entanto, sua apatia e falta de determinação o tornam incapaz de competir em um ambiente que exige articulação e ambição. Ele é, essencialmente, um espectador da própria vida, mais interessado em observá-la do que em vivê-la.
Reflexões filosóficas e críticas sociais
Um dos aspectos mais marcantes da obra é a maneira como Brás Cubas reflete sobre a sociedade, a moral e a existência humana. Ele frequentemente interrompe a narrativa para comentar os costumes da época, a hipocrisia das elites e as desigualdades sociais. Machado de Assis utiliza essas digressões para criticar os valores da sociedade brasileira do século XIX, especialmente a escravidão e o patriarcalismo.
Um exemplo claro dessas críticas é a relação de Brás Cubas com Prudêncio, um ex-escravo da família. Quando jovem, Brás maltratava Prudêncio, e, anos depois, observa com desdém o fato de Prudêncio ter adquirido sua própria escrava, perpetuando o ciclo de opressão. Essa cena evidencia a visão irônica e desiludida do autor sobre as relações sociais de sua época.
A morte e o balanço final
O livro começa e termina com a morte de Brás Cubas. No capítulo final, ele faz um balanço de sua vida, concluindo que não teve grandes conquistas, mas também não causou grandes danos. Sua maior "vantagem" em relação aos vivos é o fato de não ter filhos, o que ele considera uma forma de evitar perpetuar os sofrimentos da existência.
Essa conclusão cínica reflete o pessimismo de Machado de Assis em relação à condição humana. A vida de Brás Cubas é uma sucessão de eventos sem grande significado, marcada por egoísmo, vaidade e falta de propósito. Ao mesmo tempo, o autor demonstra que essas características não são exclusivas de Brás, mas representam a natureza humana de forma mais ampla.
Estilo e estrutura inovadores
Além do conteúdo, Memórias Póstumas de Brás Cubas se destaca pelo estilo e pela estrutura. A narrativa é fragmentada, com capítulos curtos e digressões que muitas vezes quebram o ritmo da história. Brás conversa diretamente com o leitor, criando uma sensação de intimidade e cumplicidade. Essa abordagem reflete o experimentalismo literário de Machado, que rompeu com as convenções do romantismo e antecipou técnicas modernistas.
A linguagem é carregada de ironia, sarcasmo e humor negro. Machado utiliza esses recursos para desconstruir ideais como o amor romântico, a glória e a moralidade, mostrando que esses conceitos muitas vezes são sustentados por hipocrisia e autoengano.
Conclusão: Um retrato do vazio existencial
Memórias Póstumas de Brás Cubas é mais do que a história de um indivíduo; é um retrato profundo e irônico da sociedade brasileira do século XIX e uma reflexão atemporal sobre a condição humana. Brás Cubas, com sua vida vazia e seus fracassos, é um anti-herói que nos convida a questionar nossas próprias ambições, valores e ilusões.
A genialidade de Machado de Assis reside em sua habilidade de transformar a mediocridade da vida de Brás em uma obra-prima literária, que continua a provocar e fascinar leitores mais de um século após sua publicação.
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