Dom Casmurro, de Machado de Assis
Resumo da obra Dom Casmurro, de Machado de Assis
"Dom Casmurro", um dos maiores clássicos da literatura brasileira, foi publicado em 1899 por Machado de Assis. O livro, narrado em primeira pessoa, apresenta a história de Bento Santiago, apelidado de "Dom Casmurro". O título já sugere a natureza introspectiva e desconfiada do protagonista, que relata suas memórias com um tom de amargura e incerteza.
A obra é estruturada em 148 capítulos curtos, que contribuem para a fluidez narrativa e permitem ao leitor acompanhar as nuances dos pensamentos e sentimentos do narrador. A principal questão que permeia o romance é a possível traição de Capitu, a esposa de Bento, com seu melhor amigo, Escobar, e se Ezequiel, filho do casal, seria de fato filho biológico de Bento.
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Bento Santiago, no início do romance, apresenta-se como um homem envelhecido e recluso, apelidado "Dom Casmurro" devido à sua natureza reservada. Ele decide escrever sua autobiografia para "atar as duas pontas da vida" — infância e velhice. Porém, a narrativa é marcada pela subjetividade, pela memória seletiva e pelo tom confessional, que influenciam a interpretação dos fatos.
O ambiente em que Bento cresceu reflete a sociedade patriarcal e conservadora do Brasil do século XIX. Sua família, de classe média alta, morava em um casarão no bairro de Matacavalos, no Rio de Janeiro. A casa e os arredores desempenham um papel simbólico na obra, representando segurança, tradição e os conflitos internos do protagonista.
Infância e a promessa materna
Bento e Capitu crescem como vizinhos e amigos íntimos. Desde cedo, Bento mostra-se encantado pela beleza e personalidade marcante de Capitu, descrita como uma jovem de "olhos de ressaca" — expressão que simboliza tanto a intensidade quanto a ambiguidade de seu caráter.
A mãe de Bento, Dona Glória, viúva e profundamente religiosa, faz uma promessa de consagrar o filho à vida clerical caso sobrevivesse às complicações de seu nascimento. Bento, por sua vez, sente-se dividido entre a obrigação de cumprir essa promessa e o desejo de viver seu amor com Capitu.
O romance entre Bento e Capitu
O relacionamento de Bento e Capitu é descrito de maneira íntima, mas com uma aura de inocência juvenil. Capitu é perspicaz, determinada e dona de um forte poder de persuasão. Ela incentiva Bento a resistir à ideia de ser padre e a lutar por seu amor. Por outro lado, Bento é inseguro e frequentemente manipulado tanto por Capitu quanto pelos outros ao seu redor.
A trama ganha intensidade com a presença de José Dias, um agregado da família, que serve como conselheiro e intermediário. Embora apoie Bento em certos momentos, José Dias frequentemente alerta Dona Glória sobre os "perigos" da proximidade entre os jovens.
Entrada no seminário e o encontro com Escobar
Pressionado pela mãe, Bento ingressa no seminário, mas nunca se adapta ao ambiente religioso. Lá, conhece Escobar, que rapidamente se torna seu melhor amigo. Escobar é o oposto de Bento: seguro de si, pragmático e bem-sucedido. Apesar da amizade, Bento sente-se inferior e, eventualmente, nutrirá ciúmes e suspeitas em relação a ele.
Após insistência de Capitu, Bento finalmente convence Dona Glória a desistir de sua promessa, saindo do seminário para seguir outro caminho. Ele retorna para sua antiga vida, decidido a se casar com Capitu.
Casamento e ascensão social
Bento e Capitu finalmente se casam, e o casal parece viver um período de felicidade. Durante o casamento, Escobar se casa com Sancha, amiga próxima de Capitu, fortalecendo ainda mais o vínculo entre as duas famílias.
Bento inicia sua carreira como advogado, e o círculo social do casal amplia-se. No entanto, o nascimento de Ezequiel, filho do casal, marca o início das dúvidas e do colapso emocional de Bento. Ele começa a enxergar semelhanças físicas entre Ezequiel e Escobar, o que o leva a questionar a fidelidade de Capitu.
A morte de Escobar e a desconfiança
A morte repentina de Escobar, durante um acidente no mar, é um ponto de virada na narrativa. Durante o velório, Bento interpreta o comportamento de Capitu como excessivamente emotivo e inadequado, reforçando suas suspeitas. Ele acredita que o sofrimento de Capitu revela uma ligação secreta entre ela e Escobar.
A obsessão de Bento com a possível traição cresce de forma incontrolável. Ele começa a vigiar Capitu e a buscar sinais que confirmem suas suspeitas. A partir desse momento, o relacionamento do casal deteriora-se rapidamente.
Exílio e separação
Incapaz de lidar com as suspeitas, Bento decide separar-se de Capitu. Ela e Ezequiel partem para a Europa, enquanto Bento permanece no Brasil, afundando-se em sua solidão e amargura. A narrativa sugere que Capitu tenta manter contato, mas Bento a ignora completamente.
O distanciamento emocional e físico entre eles é acompanhado pela intensificação da autoabsorção de Bento. Ele torna-se cada vez mais preso às suas lembranças e suposições, criando uma narrativa que mistura realidade e fantasia.
Desfecho e o dilema do leitor
Anos depois, Bento recebe notícias da morte de Capitu e reencontra Ezequiel, já adulto. Ele ainda vê em Ezequiel traços físicos e comportamentais de Escobar, mas nunca confronta diretamente o jovem sobre suas suspeitas.
O livro termina sem oferecer uma resposta definitiva sobre a suposta traição de Capitu. A ambiguidade deliberada de Machado de Assis faz com que o leitor questione a confiabilidade de Bento como narrador e reflita sobre os limites entre verdade, memória e imaginação.
Temas centrais
"Dom Casmurro" aborda uma série de temas universais e atemporais:
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Ciúme e obsessão: O ciúme de Bento é o catalisador para a ruína de seu casamento e de sua felicidade. A obsessão com a possível traição o impede de enxergar a realidade de maneira objetiva.
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Memória e narrativa: A obra questiona a confiabilidade das memórias e da interpretação subjetiva dos fatos, ressaltando como a percepção humana é moldada por emoções e preconceitos.
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Papel da mulher: Capitu representa uma figura feminina complexa e multifacetada, desafiando os papéis tradicionais atribuídos às mulheres na sociedade patriarcal.
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Ambiguidade moral: Machado de Assis evita respostas fáceis, deixando ao leitor a tarefa de interpretar as ações e motivações dos personagens.
"Dom Casmurro" continua a ser uma obra essencial da literatura brasileira, cativando leitores com sua profundidade psicológica, narrativa engenhosa e complexidade temática. Sua principal força reside na habilidade de Machado de Assis em explorar as fraquezas e contradições humanas, tornando-a uma história tão relevante hoje quanto no século XIX.
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