Crítica da Faculdade do Juízo, de Immanuel Kant

Resumo da obra Crítica da Faculdade do Juízo, de Immanuel Kant

A "Crítica da Faculdade do Juízo" (Kritik der Urteilskraft), publicada por Immanuel Kant em 1790, é a terceira obra de sua trilogia crítica, sucedendo a "Crítica da Razão Pura" e a "Crítica da Razão Prática". Nela, Kant investiga os limites e as capacidades da faculdade do juízo, intermediando as esferas do entendimento teórico e da razão prática. Esse livro desempenha um papel crucial no sistema kantiano, unificando os campos da natureza e da liberdade e oferecendo uma análise abrangente do belo, do sublime e da teleologia.

Crítica da faculdade de julgar

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Contexto e Objetivo da Obra

A "Crítica da Faculdade do Juízo" visa solucionar uma lacuna deixada pelas duas críticas anteriores: como as ideias de liberdade (mundo moral) e necessidade (mundo natural) podem coexistir e serem conciliadas no pensamento humano. Para tanto, Kant investiga a faculdade do juízo como um mediador entre o entendimento (ciência) e a razão (moral).

A obra é dividida em duas partes principais:

  1. Crítica do Juízo Estético

  2. Crítica do Juízo Teleológico


Crítica do Juízo Estético

O Belo e o Sublime

Kant inicia explorando a experiência estética, diferenciando os conceitos de belo e sublime. Ele propõe que o juízo estético é desinteressado, ou seja, não depende de utilidade ou de uma finalidade prática. O belo é caracterizado pela harmonia e pelo prazer proporcionado pela forma de um objeto, enquanto o sublime evoca grandeza e imensidão, misturando admiração e terror.

Quatro Momentos do Juízo Estético

  1. Qualidade: O juízo de gosto é desinteressado. Não se aprecia o objeto pelo que ele oferece em termos de utilidade, mas pela mera contemplação.

  2. Quantidade: O belo é universal, ou seja, a experiência do belo pretende ser compartilhada por todos, sem depender de conceitos específicos.

  3. Relação: A beleza é vista como algo que parece possuir uma finalidade sem propósito ("finalidade sem fim"), pois encanta sem um objetivo claro.

  4. Modalidade: A experiência do belo é necessária; sentimos que os outros deveriam concordar com nosso julgamento estético.

A Genialidade

Kant também introduz a ideia de genialidade como uma capacidade natural para criar obras de arte que transcendem o conhecimento conceitual. O gênio é aquele que produz beleza de maneira original, criando algo que inspira novos julgamentos estéticos.


O Sublime

O sublime, diferentemente do belo, está relacionado à experiência do ilimitado e do absoluto, algo que transcende a nossa capacidade de compreensão sensível. Existem dois tipos:

  1. Sublime Matemático: Relacionado à imensidão e à infinitude.

  2. Sublime Dinâmico: Ligado à força e ao poder avassalador da natureza.

A experiência do sublime nos lembra da nossa fragilidade como seres finitos, mas também da nossa grandeza como seres racionais capazes de conceber o infinito.


Crítica do Juízo Teleológico

A segunda parte da obra aborda a noção de teleologia, ou seja, a interpretação da natureza segundo fins. Aqui, Kant investiga como podemos considerar a natureza como se ela tivesse propósitos, mesmo que esses propósitos não possam ser provados cientificamente.

Finalidade Objetiva e Subjetiva

  • Finalidade Objetiva: Diz respeito à forma como objetos parecem ter sido criados com um propósito específico.

  • Finalidade Subjetiva: Refere-se à maneira como a mente humana organiza as percepções para encontrar ordem e coerência no mundo.

Kant argumenta que, embora não possamos afirmar que a natureza de fato possui finalidades, a ideia de finalidade é indispensável para compreendermos sistemas complexos, como organismos vivos.


Organismos e Teleologia

Um foco importante dessa seção é a análise dos organismos. Kant distingue entre máquinas e organismos:

  • Uma máquina é composta por partes que operam em conjunto, mas que podem funcionar independentemente.

  • Um organismo, por outro lado, é um sistema em que as partes existem em função do todo, e o todo existe em função das partes. Essa interdependência sugere uma finalidade intrínseca.

Para Kant, os organismos desafiam as explicações puramente mecanicistas da ciência, mas ele rejeita a ideia de que possam ser explicados apenas por um desígnio divino. Em vez disso, ele vê a teleologia como uma forma regulativa de pensamento, útil para organizar nossa investigação da natureza.


Conexão entre Estética e Teleologia

Kant unifica as duas críticas em torno do conceito de juízo reflexivo, que busca encontrar ordem ou propósito onde ele não é imediatamente evidente. No juízo estético, isso ocorre através da contemplação do belo e do sublime, enquanto no juízo teleológico, ocorre na tentativa de compreender a natureza como se tivesse um propósito.

Essa ponte entre estética e teleologia reflete a ideia de que a mente humana projeta ordem e significado no mundo, unificando os domínios da necessidade (ciência) e da liberdade (moral).


Importância Filosófica

  1. Estética como Filosofia Autônoma: Kant eleva a estética a um campo filosófico legítimo, fornecendo uma base teórica para o estudo do gosto e da arte.

  2. Teleologia e Ciência Moderna: Sua análise teleológica influenciou debates subsequentes sobre biologia, evolução e os limites da explicação científica.

  3. Sistema Filosófico Completo: Com essa obra, Kant completa seu projeto crítico, articulando uma visão coerente das capacidades humanas e seu papel na construção do conhecimento e da moralidade.


Conclusão

A "Crítica da Faculdade do Juízo" não apenas complementa as críticas anteriores, mas também estabelece um campo de investigação que influenciaria profundamente a filosofia subsequente. Kant oferece um modelo para pensar sobre as experiências humanas que transcendem o racional e o empírico, revelando como projetamos ordem e significado no mundo. A obra continua sendo uma referência indispensável para o estudo da estética, da biologia e da filosofia em geral. 

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