Poética, de Aristóteles

Resumo da obra Poética, de Aristóteles

A "Poética" de Aristóteles é uma das obras mais importantes da literatura e da teoria crítica ocidental. Escrita no século IV a.C., é um tratado sobre a arte da poesia, com foco na tragédia, mas também aborda a epopeia e outras formas literárias. Embora incompleta — a seção dedicada à comédia está ausente — a obra oferece conceitos fundamentais para o estudo da narrativa, drama e estética.

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Este resumo explora os principais temas, conceitos e ideias da "Poética", organizados de forma a alcançar um entendimento abrangente.


Introdução à Poética

A "Poética" é um tratado teórico que investiga a natureza e os elementos da poesia, definindo-a como uma forma de imitação (mimesis). Aristóteles contrasta sua abordagem com a de Platão, que critica a poesia por ser uma imitação inferior da realidade. Para Aristóteles, a poesia é uma forma de conhecimento que permite compreender aspectos universais da experiência humana.

Definição de Poesia

Aristóteles define poesia como a imitação da ação humana, apresentada por meio de linguagem, ritmo e harmonia. Ela se distingue em gêneros conforme o objeto da imitação, o meio utilizado e o modo de representação.


Os Gêneros Poéticos

Aristóteles identifica três gêneros principais, classificados pela forma de imitação e pelo tipo de objeto representado:

  1. Tragédia:

    • Imita ações nobres e sérias, utilizando linguagem elevada.

    • Apresenta personagens em situações de grandeza e sofrimento, com o objetivo de evocar emoções específicas, como compaixão e medo.

  2. Epopeia:

    • Narrativa longa em verso, também dedicada a temas elevados.

    • Difere da tragédia por ser narrativa e não dependente da performance dramática.

  3. Comédia:

    • Imita ações de caráter inferior, mas não vis, utilizando humor e ironia.

    • Embora a comédia não seja tratada em profundidade na "Poética", Aristóteles a menciona como essencial para a mimesis.


A Tragédia e Seus Elementos

A tragédia ocupa o núcleo da "Poética". Aristóteles apresenta uma definição formal e detalha seus componentes essenciais.

Definição de Tragédia

A tragédia é definida como:

“A imitação de uma ação séria e completa, dotada de certa extensão, por meio de linguagem artisticamente ornamentada (...), apresentando-se em forma de ação e não como narrativa, e que, pela piedade e pelo temor, realiza a purificação (catarse) de tais emoções.”

Elementos da Tragédia

Aristóteles identifica seis elementos que estruturam a tragédia, organizados em ordem de importância:

  1. Mito (ou trama):

    • A estrutura narrativa é o aspecto mais importante da tragédia.

    • Deve possuir unidade e causalidade, com eventos interligados que levam a um clímax lógico.

  2. Éthos (caráter):

    • Refere-se às qualidades morais e disposições dos personagens.

    • Personagens devem ser consistentes e críveis.

  3. Dianoia (pensamento):

    • Inclui as ideias e argumentos apresentados no discurso dos personagens.

  4. Lexis (linguagem):

    • A escolha das palavras, estilo e expressão.

  5. Melopoiía (canto):

    • O elemento musical, essencial na tragédia grega.

  6. Opsis (espetáculo):

    • Refere-se aos aspectos visuais e encenação, embora Aristóteles o considere o menos importante.


Estrutura da Tragédia

A tragédia ideal segue uma estrutura bem definida, com partes que cumprem funções específicas:

  1. Prólogo: Introdução que estabelece o contexto da história.

  2. Episódios: Sequências dramáticas que desenvolvem a ação principal.

  3. Êxodo: Conclusão, onde a resolução da trama ocorre.

  4. Coro: Parte musical e lírica, que pode interagir com os personagens ou comentar os eventos.

Unidade da Ação

A ação deve ser única e coerente, com um começo, meio e fim claramente definidos. Aristóteles rejeita tramas episódicas, onde os eventos não possuem conexão lógica.

Reconhecimento e Peripécia

Dois dispositivos narrativos centrais são destacados:

  • Reconhecimento (anagnórisis): A descoberta de algo desconhecido, que transforma o curso da história.

  • Peripécia: Uma reviravolta dramática, onde o destino do protagonista muda abruptamente.

Esses elementos aumentam o impacto emocional da tragédia e contribuem para a catarse.


A Catarse

A catarse é talvez o conceito mais discutido da "Poética". Aristóteles argumenta que a tragédia tem o objetivo de purificar as emoções de compaixão e medo, proporcionando uma experiência moral e emocional transformadora.

Embora o significado exato de catarse seja debatido, ele é frequentemente interpretado como:

  • Purificação emocional: Um alívio das emoções reprimidas.

  • Educação moral: Um aprendizado ético que resulta da identificação com o sofrimento do protagonista.


A Importância do Protagonista

O protagonista da tragédia deve ser uma figura nobre, mas não perfeita. Seu destino trágico é geralmente causado por um erro trágico (hamartia), que pode ser uma falha moral ou um equívoco. Essa característica torna o personagem humano e acessível ao público, permitindo maior identificação.


Comparação entre Tragédia e Epopeia

Aristóteles compara a tragédia com a epopeia, destacando as similaridades e diferenças:

  • A tragédia é mais intensa e compacta, com maior impacto emocional devido à performance teatral.

  • A epopeia permite maior liberdade narrativa e é adequada para histórias de maior escala.

Ele conclui que a tragédia é uma forma superior de poesia, devido à sua capacidade de provocar catarse de maneira mais direta.


Legado da "Poética"

A "Poética" influenciou profundamente a teoria literária ocidental. Seus conceitos serviram como base para a crítica literária, a dramaturgia renascentista e o estudo da narrativa.

Recepção Medieval e Renascimento

Durante a Idade Média, a "Poética" foi menos estudada, mas renasceu como texto fundamental no Renascimento, influenciando autores como Dante, Shakespeare e Corneille.

Influência Moderna

No século XX, a obra foi revisitada por teóricos como Freud, que relacionou a catarse às teorias psicanalíticas, e por dramaturgos e escritores interessados na estrutura narrativa.


Conclusão

A "Poética" de Aristóteles é um marco na análise crítica da literatura e da arte. Seus conceitos de mimesis, catarse, unidade da ação e estrutura dramática moldaram a compreensão de narrativa e drama por milênios. Apesar de suas limitações — especialmente a ausência de uma análise mais detalhada da comédia —, a "Poética" permanece uma obra essencial para compreender a estética e a arte ocidental.

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